“O destino das nações depende daquilo e de como as pessoas se alimentam” (Brillat-Savarin, 1825).

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

A redenção da gordura (?)


     Em junho deste ano, a Revista Veja trouxe uma reportagem sobre o consumo de gorduras. Ao se deparar com uma reportagem como essa você logo pensa: “Opa! Então posso devorar aquela deliciosa barra de chocolate toda de uma vez só ou comer à vontade uma picanha saborosa sem peso na consciência!” Mas alto lá! Tudo tem que ser com moderação. Vamos ver até que ponto esses alimentos são saudáveis.
No contexto da sociedade atual, com o crescente aumento de doenças cardiovasculares, está aumentando cada vez mais a preocupação com a gordura. Assim, a palavra colesterol tornou-se comum no cotidiano, pois podemos vê-la em rótulos, notícias e principalmente em marketing de alimentos.
Na verdade, as gorduras são absolutamente essenciais em nosso organismo, pois é fundamental para a síntese de membranas em nossas células e é precursora de muitos hormônios. No entanto, quando seu consumo não é controlado, nossa vida corre risco. Isso porque a gordura excedente continua a circular no sangue e pode ser depositada nas paredes das artérias, obstruindo pouco a pouco a passagem do sangue.

Existem dois tipos de gorduras, que são os ácidos graxos saturados ou insaturados. Os ácidos graxos saturados geralmente são sólidos e predominam nas gorduras de origem animal, já os ácidos graxos insaturados, que podem ser mono ou poliinsaturados geralmente estão na forma líquida (óleos) e são predominantes em lipídeos de origem vegetal, como os óleos de soja, milho, azeite.
Os ácidos graxos (gordura) insaturados consumidos em quantidades adequadas são benéficos à saúde. Esses são representados pelas séries ômega-3, ômega-6 e ômega-9.
A ausência da ingestão de ácidos graxos ômega-3 e ômega-6 acarreta sintomas clínicos adversos que podem até levar à morte do indivíduo. Esses ácidos graxos têm papel importante na pele e no sistema nervoso e visual e também estão implicados  no funcionamento de diversos órgãos e sistemas por sua conversão em eicosanóides (mediadores lipídicos farmacológicos).

      A gordura saturada é importante na integração de membranas celulares e armazenamento de vitaminas Lipossolúveis (A, D, K, E), no entanto é necessário um consumo saudável, ou seja, dentro dos limites recomendados, pois o consumo de 1% acima do recomendado aumenta significativamente os níveis de LDL levando a maior propensão a infartos, hipertensão e aterosclerose.
      Além disso, na prática, juntamente com a picanha que você consome consequentemente estará ingerindo também maior quantidade de sódio o que pode predispor à hipertensão arterial.
      Durante anos houve uma associação entre o consumo de gorduras e as doenças cardiovasculares, mas hoje sabemos que de fato a consumo exagerado de gordura saturada eleva os índices dessas doenças mas não podemos atribuir a "culpa" somente à gordura mas também aos hábitos de vida sedentários.
Hoje vemos o índice de doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs) aumentando e se compararmos com os índices de alguns anos atrás quando tínhamos uma sociedade mais ruralizada isso vai parecer meio paradoxo, pois a gordura mais consumida por essas pessoas eram de orgiem animal- principalmente a banha de porco que era utilizada na maioria das preparações - no entanto não se falava com tanta frequência nessas doenças. Isso porque os hábitos de vida desses indivíduos eram mais saudáveis, isto é, a vida rural demandava mais esforço físico e ainda na alimentação não havia predominância de alimentos industrializados carregados de gordura e sódio como temos hoje. 
      A ingestão de gorduras associado ao sedentarismo observado nas sociedades atuais é um grande fator responsável pelo aumento de obesidades, ateroscleroses, infartos entre outras DCNTs.
        A gordura é o nutriente que mais contribui com calorias na dieta e por isso não de deve exagerar no consumo. Isso é bastante contraditório, pois, como diz até mesmo na reportagem Veja, o aumento do consumo de carboidratos tem contribuído para altos índices de obesidades e diabetes, o que pode fazer pensar que o consumo de gorduras como alimento energético seria mais saudável.
Mas quando se fala de uma proporção maior de carboidratos na dieta é importante que se tenha uma preocupação com os tipos de carboidratos ingeridos. Deve-se ter um equilíbrio nas proporções de carboidratos complexos e simples associado também ao consumo adequado de fibras, pois assim reduzirá o índice glicêmico da alimentação e aumentará a saciedade.



Postado por: Grupo Bioquímica da Nutrição

Fontes:

Revista Veja - Edição2275 - ano 45 - nº 26 27 de junho de  2012.

TIRAPEGUI, Julio. Nutrição: fundamentos e aspectos atuais. 2. ed. São Paulo: Atheneu, 2006.


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